Os fatos ocorridos em Brasília têm que servir como divisor de águas na postura em relação aos terroristas bolsonaristas de extrema-direita
Impactantes e inacreditáveis as cenas de depredação dos prédios públicos invadidos, tão inacreditáveis como a falta de ação da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal, no enfrentamento dos terroristas. Quem quiser comparar a diferença de comportamento, é só buscar na memória ações recentes das PMs em vários estados, sempre atirando e espancando a população.
Cadê a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e o GSI (Grupo de Segurança Institucional)? Cadê os serviços reservados (P2) das polícias militares (PMs) e os serviços secretos das Forças Armadas e da Polícia Federal? Quantos muitos bilhões de reais custam por mês esses serviços especializados de inteligência do Estado brasileiro?
Omissão de autoridade pública é cumplicidade, em situação de extrema gravidade como o da gigantesca ação realizada pelos terroristas bolsonaristas em Brasília, na tarde de 8 de janeiro, invadindo e depredando os prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto. Cumplicidade pura e simples – e não simplesmente conivência ou incompetência –da PM do Distrito Federal e dos órgãos de inteligência federais e dos estados de onde saíram os ônibus dos terroristas.
Os fatos ocorridos em Brasília nesse dia 8 têm que servir como divisor de águas, na postura dos democratas em relação aos terroristas bolsonaristas de extrema-direita (profissionais liberais, empresários, políticos, militares, policiais e “gado”), e não apenas aos milhares que foram “às vias de fato” na tarde de domingo – por sinal, faltará espaço nas prisões para tanta gente, que precisa ser presa preventivamente até o seu julgamento.
Alertamos em outubro de 2022 para a possibilidade de atos violentos pela extrema-direita, para golpear a democracia e tomar o poder, a exemplo do que fizeram os nazistas na Alemanha, entre 1932 e 1934. E a facilidade com que os três prédios foram invadidos, atestando a sua fragilidade e a total insegurança dos “Três Poderes”, lembra a avaliação de um dos líderes bolsonaristas, sobre bastar um cabo e um soldado para ocupar o STF.
Tudo o que aconteceu em Brasília foi “martelado” quase que diariamente pelo ex-presidente da República, através das redes sociais e da mídia, com seus ataques verbais ao Congresso e ao STF, TSE, e ministros desses tribunais superiores. Portanto, ele é o principal responsável pelo ocorrido, porque estimulou o surgimento e o crescimento exponencial do ódio às instituições do Estado brasileiro entre milhões de pessoas no País. Mas ele não é o único. Todos os integrantes da “linha de frente” da extrema-direita bolsonarista têm responsabilidade direta em tudo o que ocorreu nos últimos dias (ataque ao prédio da Polícia Federal, ônibus incendiados, bomba em caminhão-tanque), até a “apoteose” dia 8 à tarde.
Temos agora a questão decisiva para a sobrevivência da frágil democracia brasileira: prender, julgar e, se for o caso, condenar (inclusive, se for o caso, cassando mandatos) os terroristas das redes sociais e das depredações, ou deixar que sigam impunes, como ocorreu com os terroristas da ditadura militar, responsáveis por tortura, assassinatos e desaparecimentos.
(*) Geógrafo, mestre em Políticas Públicas, 64 anos
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fonte: sul21.com.br