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49 MILHÕES DE ELEITORES E ELEITORAS (POR MILTON POMAR)

Assusta saber que um terço do eleitorado brasileiro ‘não está nem aí’ para a responsabilidade do atual presidente na gestão da pandemia

foto: Amazônia Real / fotos públicas

É terrivelmente assustador: 49 milhões de eleitoras e eleitores (31,5% do eleitorado) consideram o governo federal “ótimo/bom”, segundo pesquisa AtlasIntel divulgada na terça (dia 27/09). Esse total coincide com o equivalente aos 31% que manifestaram intenção de votar no atual presidente da República na pesquisa IPEC, divulgada dia 26/09. Trata-se de quantidade maior do que toda a população da Argentina (47 milhões).

Utilizando “recrutamento digital aleatório”, a pesquisa AtlasIntel foi realizada com 4.500 pessoas, em 1.575 municípios, com 1 ponto percentual de margem de erro, segundo informa a empresa na apresentação da metodologia empregada. Indagados sobre a situação do emprego, 54% disseram estar “ruim”; sobre o Brasil, está “ruim” para 52%; e 41% consideram que está “ruim” também a situação da família. “Ruindades” deixadas para trás por 77% dos “respondentes”: para essa maioria, o Brasil vai melhorar nas três questões nos próximos seis meses.

Entrevistados e entrevistadas responderam ainda que “o maior problema do Brasil” é, em primeiro lugar, a pobreza e a desigualdade social (19,7%); 16,6% a corrupção; 12% a inflação; 11,2% a criminalidade; 9,5% o acesso à saúde; e apenas 7,4% o desemprego.

Assusta saber que um terço do eleitorado brasileiro “não está nem aí” para a responsabilidade – direta e indireta – do atual presidente da República na gestão da pandemia: o muito que deixou de fazer, e tudo o que fez contrário às orientações científicas. Aparentemente esses 49 milhões de eleitoras e eleitores não se importam com o fato que o Brasil (menos de 3% da população mundial) teve a segunda maior quantidade de mortes (686 mil, números oficiais) por Covid, mais de 10% do total mundial (6,5 milhões)?

Talvez essas pessoas realmente acreditem que “tinha que ser assim”, “não havia o que fazer”, ou qualquer outra explicação absurda. Ou talvez não acreditem que mais da metade das vítimas fatais poderia ter sobrevivido, se as orientações científicas tivessem sido seguidas pelo governo federal – e que o número real de mortos pela Covid no Brasil é muitíssimo maior do que o oficial: passa de 930 mil o total de “mortes por excesso” no Brasil, de janeiro de 2020 a setembro de 2022. (Será que essas 49 milhões de pessoas esqueceram dos vários titulares do ministério da Saúde nesses quatro anos, as dezenas de milhões de comprimidos de cloroquina, ivermectina e outras drogas do inútil “tratamento precoce”, a propaganda contrária às vacinas, e o atraso criminoso da compra?)

Candidato à reeleição, o presidente distrai o eleitorado com o assunto corrupção, para não ter que falar sobre a tragédia continuada que é a sua gestão. Ataca o tempo todo para não ser atacado, distrai ao máximo com suas mentiras e estupidez, tentando de que não se fale de sua responsabilidade objetiva pelas vidas de milhares de pessoas – avós, avôs, tios, tias, mães, pais, irmãs, irmãos, mulheres, maridos, filhos, filhas, amigos, amigas, …

Comparando-se os estados nos quais o presidente tem maior aprovação e intenção de voto, com a quantidade de óbitos causados pela Covid fica mais difícil ainda entender qual é a lógica dos seus apoiadores. São Paulo (46 milhões de habitantes) teve 174 mil mortes por Covid dos quais 85% com mais de 50 anos de idade. E o Paraná, com seus 11 milhões de habitantes e 45 mil mortos pela Covid, superou São Paulo.

Foram mais vítimas fatais nos dois estados, proporcionalmente, do que em vários países com mais pessoas idosas: Alemanha (84 milhões de habitantes, 150 mil óbitos), França (65 milhões, 156 mil), Espanha (47 milhões, 114 mil), Itália (60 milhões, 177 mil), Portugal (10 milhões, 25 mil). Apesar de impactar tragicamente mais de 200 mil famílias em São Paulo e no Paraná, como que tantos eleitores e eleitoras nesses estados consideram “ótimo/bom” o governo responsável pela pandemia ter sido três vezes mais mortal no Brasil que em dezenas de outros países?

Tomara que ao menos uma pequena parte dessas 49 milhões de eleitoras e eleitores se dê conta do que está colocado para a sociedade brasileira dia 2 de outubro – aprovar ou rejeitar o governo que deliberadamente negou a pandemia, enganou a população com propaganda de tratamento sem validade, atacou a atuação responsável de prefeitos e governadores, atrasou a compra de vacinas e fez propaganda contrária à vacinação. E com tudo isso contribuiu decisivamente para o sistema de saúde colapsar e o Brasil se tornar um imenso cemitério, com quase um milhão de “mortes em excesso” no período 2020/2022.

por: Milton Pomar – Geógrafo, mestre em Políticas Públicas.

fonte: sul21.com.br